quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Oge e Bae

Oge era um rapaz solitário, apesar das relações que mantinha com diversas pessoas. Sentia solidão por não se enquadrar numa vida pré-determinada, carregada de conceitos a serem seguidos pelos ditames da normalidade. Isolara-se também por uma experiência de abandono. Já na infância conheceu uma garota chamada Bae. Os dois seguiram juntos por toda a vida, com alguns percalços às vezes turbulentos, às vezes suaves. No fundo e nos fins esse envolvimento não era proveitoso para Oge, mas era o que ele tinha.

O garoto se apegou totalmente a força daquela menina. A utilizava para se esconder das rejeições sofridas. E Bae o abraçou com toda energia, num desejo quase parasitário. Se nutrindo de Oge em todos os aspectos, reforçava seu desconforto, regava-o nas humilhações.

Nesse relacionamento, paradoxalmente, Oge se fortalecia assumindo sua fraqueza. Ao ponto de tirar proveito da condição de coitadinho em que Bae o impunha. Por fim, o relacionamento já não satisfazia Oge e ele quis fugir. Bae resistia, não o abandonaria por qualquer pretexto de vida digna que Oge agora vislumbrava. Suas vidas estavam entrelaçadas há muito, e os ganhos de Bae eram enormes e sabia que de certa forma contribuíra no desenvolvimento de Oge e acreditava ainda poder colaborar, mesmo com seu jeito torto, para o avançar do rapaz.

Nosso menino já rejeitava Bae com um ódio descomunal, às vezes deturpando seu caráter para afastar os rótulos impostos pela companheira. Mas a rejeição em alguns momentos se enfraquecia e Bae sabia esperar para dar o bote de forma sorrateira e novamente ganhava Oge.

Refém de uma condição submissa, Oge hoje tenta criar a base sólida para escapar de vez da relação desventurada com Bae. Mas sua experiência o calejou para tomar cuidado em não cair no reverso de se tornar ainda mais solitário, acabando com qualquer tipo de ligação com outras pessoas. Oge inclusive desconfia que essa possibilidade seja o grande plano de Bae.