terça-feira, 25 de novembro de 2008

A volta

Depois de quase dois meses, regresso ao Devaneios. Minha ausência se deveu à necessidade de me dedicar aos estudos de dois objetivos: o concurso do TRT (fui muito mal) e a seleção da UFG para Direito (aguardo resultado).

 

Nesse período quase não acessei a Internet ou mesmo assisti minhas séries, agora quero tirar o atraso até dia 18 de dezembro, quando sai o resultado da UFG. Caso não passe, a empreitada será de pelo menos um ano e começará já no dia seguinte. Se, por outro lado, eu passar aí é só alegria.

 

Algumas novidades: no dia 26 de outubro participei da Mini Maratona de Goiânia. Fiquei no 372ª posição no geral. Fiz o percurso de 10 km em 58min37seg. Dentro da minha meta, que era de fazer em menos de uma hora; assisti alguns filmes, dos quais destaco Speed Race, Orgulho e preconceito e Dogville. Falarei sobre eles logo, logo.

 

É isso ai, depois vou abastecendo o blog no ritmo normal.

 

Abraços

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sobre Séries

Acabei de assistir minha segunda série completa, depois de Sopranos foi a vez de Six Feet Under, conhecida aqui no Brasil como "A sete palmos". Já falei deste programa aqui no Devaneios e tenho pouco a acrescentar, é uma série absolutamente fantástica, em que personagens ficam entrelaçados em nossa mente e coração. Ótima, recomendo a todos.

 

Em setembro diversas séries voltaram e outras tiveram seus lançamentos. Já vi o os episódios iniciais de Prison Break (4ª temporada), Californication (2ª temporada), Heroes (3ª temporada), Smallville (8ª temporada) e aproveitei para ver uma nova, que retoma a idéia da antiga Barrados no Baile, chamada 90210 (CEP de Bervely Hills). Não me empolguei, apesar de ser fã da original. Anseio pela volta de Dexter (3ª temporada), que assistirei hoje. Em outro tópico falarei sobre cada uma de minhas séries preferidas.

 

Abraços

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O Ódio de Morte

Só quem já odiou de morte sabe o quão é forte esse sentimento. A pessoa odiada não é apenas desprezada, ela é repelida para um destino sofrível. Quem odeia de morte não quer somente que o outro morra, deseja que ele morra emblematicamente. Uma morte rápida não lhe satisfaz, há necessidade de sofrimento e que se possa acompanhar a agonia do odiado. Não basta um tiro, o melhor seria descarregar o pente depois de uma sessão de humilhação consternadora.

 

Contudo, nem todo aquele que odeia de morte quer sujar as mãos. O desejo lhe é suficiente. Ele acredita que o não envolvimento desencadeie acontecimentos mais arrebatadores. Matar o odiado seria como sujar seu sentimento, uma vez que seu ódio não foi o bastante para causar o fim. E claro, ser espectador é mais prazeroso que executante.

 

Odiar alguém de morte é um dos maiores sentimentos que o ser humano pode ter. Nutri-lo demonstra a grandeza do arcabouço emocional do homem, capaz de carregar ao mesmo tempo o amor eterno e o ódio mortal.

 

Abraços

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O que leva aquela mulher

Ela levantou apressada e totalmente suada. Deixou na cama aqueles três homens exaustos e extasiados. Tomou banho de água fria num chuveiro de boca larga, vestiu sua roupa florida mas extremamente elegante e pegou o dinheiro esparramado sobre o aparador. A quantia era maior que o combinado, o que a fez olhar sorrindo para os três. Estavam admirando sua elegância descompassada com o que haviam experimentado há poucos instantes. Admitiram o extra com um olhar iluminado. Sozinhos, soltaram um "Puta que pariu, que mulher!", fazendo Vanessa, já do lado de fora, se sentir mais gratificada que todo o dinheiro recebido.

 

Vanessa gostava de sua vida, dividia e compreendia muito bem seu prazer. Não sentia culpa ou qualquer arrependimento, era livre na sua visão de mundo, não carregava consigo nenhum ranço de moral cristã ou repressora. Quase tudo lhe era permitido, seguia apenas duas regras: só se vendia para mais de duas pessoas e o sexo com seu esposo não entrava ninguém, era somente os dois.

 

A primeira regra se justificava com simplicidade: se é para se prostituir, que seja com deleite. E ela adorava uma suruba, quanto mais, melhor. Contudo uma restrição se impunha: ela deveria conseguir controlar e satisfazer todos os participantes, seu número mágico é o cinco. A segunda regra é muito subjetiva, Vanessa segue uma espécie de instinto visceral que a impede de aceitar a divisão de seu marido com outra pessoa. Não é por ciúmes nem por pudor, ela simplesmente tem certeza que não sentirá prazer e, por conseqüência, não dará.

 

Assim, Vanessa leva sua vida, amando e se entregando por completo. Toda a compreensão de que precisa, ela encontra em si e por isso é feliz.

 

Abraços

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Mais que a grande festa do esporte

De quatro em quatro anos o mundo mostra que poderia ser melhor. Duas centenas de nações disputando para saber quem é o mais forte, o mais rápido e quem vai mais alto. Por traz das competições há um ideal que deveria permear a humanidade em todas as situações: a lealdade e a amizade.

 

Lutar no esporte deveria ser a única luta empreendida pela raça humana. Não deveríamos lutar contra a fome, ela não deveria existir, não deveríamos lutar contra a violência, ela não deveria existir. Não deveríamos lutar contra nós mesmos, deveríamos ser amigos e conscientes de que pertencemos a um só mundo e a um só sonho.

 

Tentarei acompanhar o maior número de esportes possíveis, não apenas em busca das competições, mas vislumbrando o ideal olímpico e assistindo a comunhão da humanidade, apesar dos pesares.

 

Abraços

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Sobre Séries – The L Word

Terminei a quinta temporada de The L Word – as garotas lésbicas de Los Angeles. Esta série fala muito bem sobre relacionamentos: de forma aberta, sincera, sensual e realística. Um programa ótimo, uma pena que a temporada seguinte, no próximo ano, será a última. Já sinto saudades.

 

Abraços

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Batman - “Because he isn’t a hero.”

Toda minha expectativa foi superada quando terminei de assistir Batman – O Cavaleiro das Trevas. Esperava um filme melhor que Begins, foi muito melhor. Imaginava que o Coringa de Heath Ledger estivesse em todas as cenas e com isso monopolizasse a história, mas o filme vai além da relação de enfrentamento Batman X Coringa. Apesar de o seu ápice ser a atuação de Ledger, a história é essencialmente sobre os conflitos internos que todo ser humano possui.

 

Definitivamente, essa retomada de Batman devolve o herói mascarado ao seu lugar merecido: às sombras, com sua dubiedade interna de ser o que é, não um herói comum, mas um homem capaz de fazer o que acredita que deve ser feito.

 

Filme imperdível não só pela diversão como pela reflexão que proporciona.

 

Abraços.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O dia em que eu poderia ter morrido

Em janeiro de 2007 precisei extrair um dente siso que estava deitado, ele não havia nascido, permanecia interno. O dentista receitou-me alguns medicamentos para tomar antes e depois da pequena cirurgia, tomei-os conforme a prescrição. Na noite após a extração a Flávia teve plantão e eu estava sozinho em casa. Por volta das 8 horas, senti um aperto no peito que foi crescendo de maneira assustadora, me desesperei achando que se tratava de um ataque cardíaco. A dor era extremamente forte e experimentei a sensação de que iria morrer, mas não era uma sensação advinda do medo, era como a certeza que a morte havia marcado o momento e a forma do meu fim. No desespero, liguei para o SAMU solicitando ajuda, o suposto médico, depois de algumas perguntas, diagnostica ar preso. Me acalmo, mas a dor continua até que apago de cansaço.

 

Ontem assisto uma reportagem informando que a ANVISA suspendeu a comercialização do antiinflamatório Prexige, após a morte de um homem. Esse medicamento é o mesmo que tomei para a extração do dente. Na época, sua bula falava que uma das reações adversas poderia ser arritmia. Depois de lê-la não tomei a segunda dose do medicamento, acho que isso valeu minha vida.

 

Esse antiinflamatório é um dos mais vendidos no Brasil e existem diversas reclamações relatando alguns sintomas sérios após tomá-lo. Ele foi aprovado em mais de 30 paises, mas apenas 7 continuam a comercializá-lo, agora são apenas 6 em todo o mundo. Ainda guardo a caixa da segunda dose da droga que quase me matou. Talvez agora, que tenho a certeza do causador daquele desesperador momento, possa finalmente livrar-me não só do comprimido, mas da lembrança.

 

Abraços

sexta-feira, 18 de julho de 2008

As duas vidas

Amo demais essa vida. Quero aproveitar cada momento sem deixar que angústias me consumam. Cada dia tem que valer como cem e todos serão dedicados às alegrias, aos amores, às amizades e ao hedonismo. Afinal, na outra vida, que será infinitamente maior, passarei num retângulo de madeira escuro, frio, apertado e solitário.

 

Abraços

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Humanidade acuada

O caso da morte do menino no Rio de Janeiro escancara o nível em que a civilização atingiu. Sob a desculpa de atacar bandidos, os policiais metralham um carro parado sem qualquer mostras de revide. O desespero de uma mãe vendo os filhos serem fuzilados a faz enfrentar as balas e suplicar que parem.

 

A revolta contra esses policiais despreparados é mais que legítima, mas não esqueçamos que o governo é o maior culpado. Culpado pelo não enfrentamento contra a crescente violência, pelo menos não de maneira eficaz e inteligente. E culpado também por entregar armas à homens sem treinamento e sem condições psíquicas para exercerem uma função com grau de responsabilidade tão elevado. Por isso, o Estado deve pagar de forma exemplar pela morte do garoto, ressarcindo não só a família mas também a sociedade.

 

Abraços

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Liga Dos Urubus

Compensou todos os gols de barriga. Compensou todas as provocações. Compensou todos os urubus abatidos no Maracanã. A L.D.U. lavou minh'alma de maneira completa e extasiante. VIVA LA LIGA!

 

Hoje começo ler Dom Quixote de la Mancha, obra máxima da literatura e originalmente escrita em língua espanhola, a mesma de mis compañeros del Equador.

 

Abraços

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O Cosmos

Um assunto que sempre me fascinou foi a origem do Universo. A inquietação a respeito do espaço e das estrelas tem um impacto altamente relevante para mim, basta dizer que ela foi o estopim para que eu me tornasse ateu (fato de grande importância na minha vida). Sempre me encantou olhar para o céu e vislumbrar as estrelas, era consumido por uma vontade de viajar pela imensidão do cosmos.

 

Não só o começo mas também o fim do Universo me seduz. Saber como será o fim de algo tão grandioso equivale descobrir o sentido da própria vida. Dentre as teorias que explicam como será o término, minha preferida, e na qual acredito, é a do Big Crash. Esta teoria fala que depois da expansão repentina no Big Bang haverá a contração do Universo, retornando ao ponto denso e concentrado original chamado de singularidade. Desta forma, o movimento de expansão e contração acontece num vaivém em que a vida pode ou não se repetir.

 

Outro tema pertinente para mim é a existência de vida fora da Terra. Isso é perfeitamente possível, contudo um contato é outra coisa, não apenas pela vastidão do espaço, mas principalmente pela questão temporal. Pense bem, nosso planeta tem 4,5 bilhões de anos e só depois de muito tempo a vida surgiu (os humanos só vieram no finalzinho desse período, coisa de 30 mil anos), se levarmos em conta que o homem só será extinto pelo Sol daqui a 4 bilhões de anos, teríamos "poucos" anos para encontrar outros seres vivos. Nestes tempos, o que passou e o que virá depois da extinção humana, há possibilidade de ter tido planetas com vida ou que surjam depois de nós. A questão tempo tem que ser considera, não somente a espacial que pode ser superada com naves mais velozes, o tempo ainda não pode ser retoma ou avançado. Mas espero que haja um ser inteligente lá fora que nos encontre ainda neste século.

 

Abraços

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Amenidades

Talvez todos os seres humanos tenham uma forma única de fazer a mesma coisa. Podemos parecer com nossos pais, imitar alguns de seus gestos, mimetizar os trejeitos mais íntimos, mas se analisarmos com acuidade perceberemos as diferenças resultante  do acúmulo das experiências que cada um vivencia sozinho.

 

A forma de comer, por mais que seja transmitida e até mesmo condicionada desde criança, se altera pelas relações não familiares que mantemos. Ela, a forma do comer, se mistura e passa a carregar o condicionamento da infância e a vontade de seguir um padrão de etiqueta ou a forma das pessoas próximas. Por um tempo tentei mudar meu jeito de segurar o garfo, tentando copiar o modo dos atores das novelas, que levam a comida à boca de forma reta e direta, segurando o talher nas pontas dos dedos. Achei difícil, forçado e extremamente burguês, continuei pegando o garfo com a mão fechada e levando-o para boca de maneira torta. Contudo, essa forma apenas se assemelha a da minha vó (a pessoa que me ensino a comer), pois existem leves alterações, conseqüência do meu caminhar longe dela.

 

A amenidade pessoal que mais me intriga é o uso do papel higiênico. Confabulo comigo mesmo tentando imaginar o modo como as outras pessoas se utilizam desse objeto. Esta minha inquietação é devido ao fato de que vivi 2/3 da minha vida sem papel higiênico, utilizando diversos e intrigantes materiais. Por isso em apenas 12 anos, em que tive que aprender a usá-lo por mim mesmo, já mudei por diversas vezes o jeito que me sirvo de um rolo de papel branco no banheiro: a forma de dobrá-lo, quantas dobras, por qual lado inicio o processo, como finalizo, como o jogo fora. A cada mudança evoluo, hoje posso dizer que atingi um status quase definitivo, pelo menos atualmente estou satisfeito e feliz com a forma que limpo a bunda.

 

Abraços

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Copa do Brasil

Não chora, não chora, não chora!

Não chora, não chora, não chora!

 

Cadêêêêêêêê Timão! Cadêêêêêêêê Timão!

 

Viva o Spot, campeão da Copa do Brasil.

 

Abraços.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Escritos Esparsos - ...

O coveiro é um grande homem que trabalha para livrar o mundo da catinga. Ele, em sua frieza necessária, cuida de esconder aqueles que não servem mais dos urubus voadores ou não. Os que voam querem comer, os outros não querem ver nem cheirar. Esse trabalhador sem preconceitos sabe que qualquer um fede e por isso compreende sua importância, por isso seu ar arrogante. Sabe que seu ofício é livrar o mundo dos odores que nos tornam iguais.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sobre Séries - Lost

A 4ª temporada de Lost chegou ao fim. Esta foi uma temporada sensacional, muitos mistérios e muitas respostas. Talvez o fato de ter sido reduzida (apenas 14 episódios) fez com que todos os episódios apresentassem elementos importantes para a trama e alguns entraram para a ontologia da mitologia de Lost.

 

Este último episódio, que foram dois, revela como os Oceanic's 6 saem da ilha e como tramam a mentira sobre as suas respectivas sobrevivências. E o final, numa certa tensão, esclarece quem está no caixão da 3ª temporada. Apesar da curiosidade e das instigantes possibilidades que emanam desta revelação, o final não trouxe tanta estupefação quanto o final da 3ª temporada. Penso que isso se deveu à intensa exposição deste mistério, enquanto que o "We have go back" de Jack, só foi desvendado nos últimos segundos. A súplica desesperada de Jack para Kate trouxe a maior reviravolta em uma história que já presenciei e isso ficará na minha cabeça por muitos anos, dificultando a comparação. Mas, essa última temporada foi brilhante e consolidou Lost como a melhor série da atualidade e com certeza uma das melhores de todos os tempos.

 

Abraços.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Escritos Esparsos – O circular do círculo

O ritual começa ao acordar. O primeiro mundo é o banheiro e seus objetos. Quantos afazeres, futilidades, necessidades, imposições. Um mundo de gestos sincronizados, ordenados, espontâneos e condicionados. Às vezes me perco, nem estou no espelho. Tenho pressa já na manhã. Como e corro.

 

O ritual começa ao trabalhar. O primeiro mundo é o escritório e seus objetos. Tudo em volta está em minha posse, na me pertence. Agilidade, competência, qualidade é o que querem. Quero dinheiro, me trará descanso. Quando? Tenho presa. Como e volto. O mesmo mundo continua, o mesmo eu (des)continua.

 

O ritual começa ao anoitecer. O primeiro mundo é a casa e suas coisas. Movimento meu corpo sem interesse. Sinto-me perdido na ilusão da liberdade de que meus atos são meus. O que faço é desfazer o que fiz, ou fazer o que desfarei? Num círculo, qualquer ponto é o começo e o fim.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Um apelido para Euzébio

Euzébio era um menino de doze anos nascido em 1996. Seu maior sonho era não se chamar Euzébio. Não entendia por que seus pais gostavam desse nome, era difícil encontrar uma pessoa que gostasse. Acreditava que tinha muito azar, pois foi nascer logo da união de dois seres que adoravam a pronúncia e escrita da palavra Euzébio. Às vezes pensava que seus pais se aproximaram por esse peculiar gosto. Aliás, fora do circulo pater-maternal, nunca havia escutado um "bonito nome". A frase que costumeiramente ouvia após responder "como se chamas?", era: "Ah, é em homenagem a alguém?". Não era. Se fosse, talvez o menino se conformasse mais.

 

Euzébio gostava mesmo era do nome Lucas, tinha adoração até. Neste ano, estava numa classe onde estudavam quatro Lucas. Ao mesmo tempo uma tortura e um deleite. Na hora da chamada, no momento em que os professores convocavam a presença dos quatro Lucas, Euzébio sonhava. Em seu sonho, ele respondia orgulhosamente, em alto e claro som: "Presente!". Como se Lucas fosse. Sob os risos dos colegas, foram muitas as vezes que sua voz saiu do sonho enclausurado. Diminuído, Euzébio lamuriava silenciosamente.

 

A exclusividade do nome agoniava Euzébio. Não queria ser exclusivo, fantasiava ser comum. Não se importava se todos se chamassem Lucas, desde que o nomeassem assim. Os euzébios famosos não lhe acalentavam, não significavam nada para ele, a despeito da importância. Ao contrário, os desprezava.

 

Na sua triste realidade, Euzébio sabia que não haveria jeito, sempre teria o mesmo nome. Sua sina seria conviver com isto. Restava lutar para que os futuros pais nomeassem seus filhos com este nome que detestava. Assim, na banalidade, talvez se acostumasse. Saída inglória, pois lhe faltava argumentos para defender tal pleito.

 

A vida de Euzébio seguirá em lamentos, sempre tentando entender o significado da tramóia que a existência lhe pregou: ser filho das únicas pessoas que adoram seu nome e que não foram capazes nem de lhe dá um apelido.

 

Abraços

terça-feira, 27 de maio de 2008

Escritos Esparsos – Amalgame

Quelque chose me consomme

Mixte de désir et revê

Volunté de faire et de laisser être fait

Doutes et certitudes en une délicate espérance

Je suis ainsi

Confus en mes convictions

Concret en mes défauts

Immédiat en mes fantaisies

Patient en mes réalités

Amalgame de sentiments

Maintenant je veux, maintenant je donne

Douleur

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sobre Filmes – Homem de Ferro

Quinta-feira passada eu e Flávia assistimos no cinema o filme Homem de Ferro, outro super-herói vindo do gibi. Gostei bastante do filme, que passou rápido a despeito das mais de duas horas de duração, sinal que fui envolvido pela história, que retrata o começo do herói.

 

O universo dos quadrinhos há muito tempo gera grandes produções, principalmente em termos de bilheteria. Recentemente alguns destes filmes entraram na minha lista de prediletos: X-Men, Homem-Aranha, Batman Begins, Sin City e este Homem de Ferro. Ainda espero o quarto filme de X-Men e de Homem-Aranha e o segundo dos outros (Batman será em julho). Mas um projeto que agonia dentro de mim para ver na telona é a Liga da Justiça, em que reúne alguns dos mais sensacionais seres criados pela arte dos gibis.

 

O começo da transformação do ser humano normal num super humano sempre me agrada. Observar as sutilezas das mudanças, que às vezes não são sutis, ou a ruptura total no ritmo de vida desses seres me remete as possibilidades que todos nós temos em superar as extremas dificuldades que podem se apresentar em certos momentos da nossa existência.

 

Abraços

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Escritos Esparsos - Prender não é proteger

Outro dia minha namorada (hoje minha esposa) levou-me ao Zoológico de Goiânia, incrível! Tantos animais lindos: pássaros de diversas espécies, répteis de todos os tamanhos, mamíferos aos milhares e uma infinidade de outros bichos. Foi minha primeira ida a um zoológico e me encantei com os felinos. Os tigres eram meus animais prediletos quando criança, aliás são as crianças quem mais se divertem. Sai de lá extasiado, completamente maravilhado com as faunas de diversas nacionalidades.

 

Chegando em casa, porém, me pus a refletir: além da beleza e da novidade, outra coisa incomodou-me, a tristeza dos prisioneiros. Todos estão ali não por que querem, não por que gostam, estão ali por vontade de outros animais. E, indubitavelmente, me veio a pergunta: qual a finalidade de um zoológico? Não outra que nos divertir, principalmente as crianças. São propiciados momentos de um lazer irracional, em que observamos outras vidas trancafiadas e sujeitas ao estresse da vida em grades, tendo que conviver com gritos, calor, espaços apertados e, algumas vezes, sem a menor infra-estrutura. Pobres animais, reféns dos caprichos dos humanos que os chamam, paradoxalmente, de "astros".

 

O amante de zoológico me diria: "livres, eles estariam sujeitos aos caçadores". Realmente a questão está aí: o que precisa ser mudado é a forma como esses animais são protegidos. Colocá-los em prisões, tirando sua liberdade e deixando os assassinos as soltas, não é verdadeiramente uma proteção. Existem vários exemplos de parques em que os animais ficam livres e os visitantes é que vão para dentro das jaulas admirá-los. Isso tem dado certo, basta um pouco de raciocínio e de sentimento, o que falta a nós, seres pensantes. Uma outra solução, e a meu ver a que melhor surtirá efeito, é a educação daqueles que mais se satisfazem com o vislumbre dos animais presos, as crianças. Devemos ensinar-las que a liberdade não pode ser trocada pela gratificação de ver belos animais presos.

sábado, 17 de maio de 2008

Sobre as férias

Nossas férias (eu e a Flávia tiramos férias juntos depois de muitos anos!) foram sensacionais. Mas o ponto alto foi Porto Seguro: sete dias curtindo o mar, namorando, bebendo cerveja, namorando...

Em Porto Seguro, descubrimos um lugar que com certeza passaremos alguns meses de nossa aposentadoria: Arraial D'Ajuda. Um vilarejo maravilhoso, com praias fantásticas e povo acolhedor... tudo ótimo. Aliás, me arrependi de não ter ficado numa pousadinha em Arraial D'Ajuda mesmo.

Não deu para fazer tudo que havia imaginado, como por exemplo ir aos museus de Goiânia (mas isso posso fazer sem estar de férias), mas trinta dias sem preocupação e obrigações são revigorantes e totalmente necessários.

Abraços

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Escritos Esparsos – A casa do Drácula

Está lá. Sua imagem me devora como um bisturi numa pele macia. O que vejo não são apenas tijolos, há horror, desespero, angústia, solidão. Os cômodos não são cômodos, criptas. As janelas, grades. Sem portas. Nas entradas não há saídas. O cheiro é opaco, inibe. A vida está ao redor sendo sugada pela morte.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Sobre Séries - The Sopranos

Domingo passado assisti o último episódio de The Sopranos. Primeira série que acompanhei do início ao fim. Foram seis temporadas de total deleite. Vivenciei e aprendi com as angústias de um mafioso que faz terapia, cria seus filhos, administra sua mulher, comanda seus companheiros e lida com seus inimigos.

 

A série mostrava cruamente, mais que qualquer outra coisa, as relações familiares e suas conseqüências na vida dos personagens. Com isso, vimos Tony Soprano procurar um terapeuta para resolver seus surtos de falta de ar desencadeados na infância pela sua criação num ambiente violento.

 

Sopranos, então, vai bem além de uma série sobre mafiosos, trata da condição humana, com seus desalentos, alegrias, incertezas e com suas virtudes que se mostram em momentos de total desespero. Uma série absolutamente maravilhosa que deixará saudades.

 

Abraços

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Escritos Esparsos – Um

São tantas pessoas. São tantos rostos. Tantas personalidades. É uma multidão de desejos, sonhos, esperanças, vontades...

 

Impossível saber se todos são felizes, mas vejo sorrisos, ouço gargalhadas, expressões de felicidade. Talvez momentâneas, talvez duradouras, mas cheias de um quê bastante aconchegante, animador, que me faz refletir. Não fico indiferente.

 

Enquanto procuro alguém, a multidão passa. Eu penso. Eu lembro. A multidão, cheia de pessoas, é espremida, quase sem rosto.

Retorno

Após trinta e cinco dias de férias, retomo os trabalhos: o oficial e o deste blog. Nas férias consegui fazer quase tudo que pretendia... Mas o ápice realmente foram os sete dias em Porto Seguro: cerveja, namoro, lindas praias, mais cerveja, mais namoro...

 

Numa das atividades que planejei para os dias de descanso, estava a arrumação da estante de textos da época da Universidade. Nossa, como guardamos coisas que, ao passar dos anos, não nos interessam mais... O resultado foi a desocupação de incríveis 80% da estante (o catador de papel que passava perto de casa agradeceu bastante).

 

Na arrumação, encontrei alguns escritos esparsos que havia feito no decorrer do tempo. Resolvi colocá-los aqui, entremeando os devaneios atuais.
 
Abraços

quarta-feira, 19 de março de 2008

Receita para um dia feliz

Tome um café da manhã revigorante em companhia de alguém que você ama;

 
Ao sair de casa beije essa pessoa longamente, estando ela só de sutiã (se isso for possível). O importante é que as costas estejam desnudas, permitindo que suas mãos sintam o frescor da pele dela;

 

Monte em sua bicicleta, coloque seu MP3 e ouça a música nova da Fergie;

 

Sinta a brisa fresca passar pelo seu corpo e balançar sua camiseta, ah, vista uma roupa leve e descontraída. Calce um tênis com meias frouxas, quase relaxadas;

 

É importante, para arrebatar a receita, que o tempo esteja com você goste. No meu caso: céu azul, com nuvens esparsas e vento sem direção;

 

Pedale calmamente, acompanhe a música, cante até, sem constrangimento, os outros vão olhar, tudo bem, verão alguém feliz;

 

Pense na pessoa, no beijo, nas costas, no frescor. Sinta sua presença, deseje-a;

 

Agora, junte tudo e coloque numa quarta-feira em que o resto da semana seja feriado prolongado de 5 dias. Se isso não for o caso, engane-se, permita-se fantasiar, fuja do padrão. Encare esse dia como sendo o seu melhor dia.

 

Abraços

quinta-feira, 13 de março de 2008

Imbricações metafísicas das coincidências

Ontem acordei com enorme vontade de rever meus amigos de Paraíso, ainda resquícios da maravilhosa viagem que fiz em janeiro. Logo pela manhã enviei um e-mail para eles relatando minha saudade e o desejo de tomar uma cerveja e conversarmos descompromissadamente. No período da tarde, um dos meus amigos, o Alexandre, me liga dizendo que estava em Goiânia e queria me encontrar para conversarmos e tomarmos uma cerveja (ele ainda não havia lido o e-mail). Coincidência? Sintonia telepática? Destino? Déjà vu?

 

O meu lado cético teima pela coincidência; o que acredita no grande poder do cérebro embirra pelos desígnios da mente. Há ainda outras questões: uma que fala que tudo já está traçado e destinado a incidir; e aquela que prega a vida como uma sucessão de acontecimentos repetidos desencadeados pelo vaivém da expansão e contração do universo. De uma forma ou de outra, a cerveja estava uma delícia e o papo melhor ainda.

 

Abraços

quarta-feira, 12 de março de 2008

O primeiro Machado de Assis

Depois de 30 anos leio um livro daquele que é considerado o maior escritor brasileiro. Escolhi Dom Casmurro para iniciar minha empreitada machadiana. O estilo do autor me ganhou completamente: sarcástico, psicológico e inteligente. Um texto envolvente e que nos faz inquirir sobre possibilidades. Nada é dado pronto.

 

Fui surpreendido, pois esperava uma escrita árida, densa e que não permitiria a identificação com os personagens. Tudo ao contrário. Bentinho e Capitu pertencem agora ao que convencionei chamar de universo paralelo de pessoas que valem a pena serem mencionados numa conversa. Ou seja, são parte de minha história.

 

Abraços

quarta-feira, 5 de março de 2008

Sobre séries – Battlestar Galactica

Comecei a assisti Battlestar Galactica no ano passado e fui arrebatado por esta série fantástica. Enredo impecável, atuações magistrais, efeitos virtuosos, personagens cativantes, ação, drama, psicanálise, filosofia, enfim, tudo me agrada. Sempre tentei convencer minha esposa a acompanhar comigo, sempre em vão, meus argumentos não a sensibilizavam. Mas, quando assisti o décimo episódio da segunda temporada fui tomado pela obrigação de convencê-la. Consegui. Utilizei argumentos técnicos (sem falhas de edição, história bem escritas, atuações perfeitas) e não-técnicos (beleza dos atores, referência à mitologia, clima não muito denso) mas acredito que ela cedeu percebendo o estado emotivo em que me encontrava, transpassado pelos meus olhos quase em lágrimas. Considero esse episódio o melhor que já vi em todas as séries que assisti e isso me imbuiu de uma argüição por demais voraz.

 

Por quatro meses tive que rever todos os episódios anteriores com ela. Não foi nenhum sacrifício, o difícil foi resistir à vontade em continuar a série onde havia parado, no episodio dez. Mas eis que o dia chegou. Ontem assistimos juntos ao afamado momento e à sua seqüência. Mesma emoção, aliás melhor: estava com alguém para compartilhar a sensação. Que episódios! Que série! No topo de minhas melhores.

 

Abraços

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Luana Piovani e um conceito que se vai

É fascinante quando um preconceito é desfeito. Sentimo-nos mais livres, abertos para o novo, para enxergarmos mais longe. O processo de quebra do preconceito é de uma beleza contagiante em que somos arrancados daquela certeza arraigada e moldada pela visão estreita de algo. E quando o medo se esvai uma alegria se instala e nos entregamos ao novo, de forma intensa.


Não queria ser rico, na verdade tinha medo de ser rico. Me apavorava ter mais que os outros e sempre me sentia culpado quando comprava algo caro. Enquadrava a riqueza nos aspectos pejorativos da vida. E nesse sentido, queria continuar pobre. Como todo preconceito, olhava o "ser rico" de forma bitolada, unidimensional, não enxergando seus diversos ângulos. Estava cego, ou melhor, mantinha meus olhos fechados.


Numa tarde o processo de transformação começou, instigado por um colega e reforçado por um livro (esse objeto destruidor de conceitos). Em menos de uma semana a ruptura estava instalada: quero ser rico, na realidade vou ser rico, estou cuidando disto. Cada um tem seu conceito de riqueza; alguns querem comprar um iate, um jatinho, ter um carro de luxo do ano ou comer a Luana Piovani, outros querem simplesmente viajar de vez em quando e conhecer a Toscana, comprar queijos e vinhos melhores ou mesmo não se sujeitar a dentista do Ipasgo. Mas todas essas vontades dependem da produção riqueza e de seu símbolo maior: o dinheiro.


Livre de um dos meus preconceitos sinto-me bem melhor e, agora, mais preparado para desfazer-me de outros. Mais que antes, acredito que a mudança expande nossos horizontes e refutar uma crença, que de certa forma nos definia, mostra o quão estamos em constante aperfeiçoamento.


Abraços

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

“Madame Bovary c’est moi”

Li recentemente Madame Bovary de Gustave Flaubert. Para quem gosta de ler, um livro fundamental. As agonias de Emma em busca da felicidade por meio do amor e de amantes, dão o tom da obra. É possível notar o trabalho de Flaubert com as palavras, sempre procurando e colocando as melhores.

 

Emma é uma heroína que extrapola as margens da moral em uma sociedade repressora e que faz da mulher um simples complemento da casa e do marido. Não aceita a monotonia do casamento burguês e corre em busca de uma liberdade libertina, que por vezes a ilude.

 

O livro é muito bem escrito e tem referência em alguns programas como Os Sopranos, que adoro, e no filme Pecados Íntimos, que é fantástico. Alias, as referências denotam a importância desse livro, além das citações explicitas em diversos meios, depois que o li, percebi uma série de menções implícitas em novelas, contos, revistas, livros, filmes. Inclusive, a primeira impressão que tive (exagerada, concordo) depois que terminei a leitura foi que não há mais grandes coisas a se escrever, e olha que ainda não li Shakespeare, Camões, Dostoievski, Machado, etc., etc., etc.

 

Abraços

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ilusão de Ótica

Tenho medo dos meus olhos me traírem. Quando vou atravessar uma rua olho duas vezes mais por causa desse meu temor. Não é que meus olhos tenham um defeito grave, minha miopia astigmática é de dois graus e meio, logo, meus óculos corrigem bem esse desvio, apesar de estarem um pouco defasados. O grande problema é o olhar, que pode cometer enganos e me colocar numa enrascada.

 

O olhar pode esconder grandes falsidades e ludibriar o cérebro. Será que aquele carro está realmente distante? Será que sua velocidade permite que eu atravesse a rua e chegue ao meu destino? Para quem anda de bicicleta essas questões são bem relevantes. Por isso a confiança naquilo que se ver é fundamental, uma questão de vida. Mas em algumas ocasiões arrisco a atravessar a rua, não deixando que a possível ludibriação do olhar me impeça de avançar um cruzamento. Enfrento meu medo, dou crédito aos meus óculos e prossigo. É preciso assumir que algumas imprecisões do olhar fazem parte da vida, são elas que nos surpreendem e tornam o pedalar mais interessante.

 

Abraços

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Inspiração de Flaubert

E. B. levantou da cama suada e exasperada. Não conseguiu dormir nem três horas e o barulho que os gatos faziam a incomodava demasiadamente. Pela janela via os animais irrequietos, atordoadamente atraídos pelo cheiro que uma gata no cio exalava.

 

A gata no cio se contorcia de vontades e seus gestos demonstravam claramente para E. B., que sua agonia residia na certeza de que os 14 gatos ao seu redor não conseguiriam aplacar sua volúpia. E. B. se excitava com aquela visão e, impacientemente, entendia o desespero da gata no cio e sabia mesmo que os gatos não seriam suficientes. Também já havia sentido essa urgência. Aliás, sentia-a agora. Foi o que a acordou: outro sonho de entrega total em que, paradoxalmente, controlava todas as suas preferências.

 

Era mais um sonho, como tantos outros, que a acordara, mas agora a visão da gata no cio havia reforçado sobremaneira as imagens do subconsciente. Sua vontade era a mesma da gata. O desespero daquele animal correspondia ao mesmo sentimento que ela sentia. Contudo, E.B. invejava a gata no cio por ela possuir agora, ainda que insuficiente, 14 gatos ao seu dispor. Nesta noite, E.B. tinha apenas ela mesma.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sobre séries

Cuidado, alguns spoliers

Lost está de volta. Depois de quase um ano de espera, turbinada pela ansiedade que o último episódio da terceira temporada gerou, saciei minha vontade de rever Jack, Kate, Locke, Hurley, Ben, Saywer e companhia.

 

Alguns reclamam que Lost caiu no marasmo e inunda a história com mistérios e mais mistérios, pra mim é uma gratificação assistir os enigmas formando um conjunto que no final nos dará todas as respostas. Assim acredito. Os subtendidos sempre me agradaram, eles nos obrigam a recriar a história à nossa maneira, é como se cada um criasse um mundo a partir das suas sensações ao assistir. E cada um tem as suas.

 

Nesta temporada os flashbacks dão lugar aos flashfowards (que mostram o futuro daqueles que saíram da ilha). Uma reviravolta na forma de contar a história que me deixou estupefato e extremamente fascinado ao final da terceira temporada, com Jack gritando para Kate: "We have go back, Kate. We have go back!". Simplesmente fantástico.

 

Abraços

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A Primeira Vez

Estava caindo uma chuva forte na cidade quando ela entrou no cômodo. O ambiente era apertado e bastante iluminado. Ele a esperava elegantemente sentando em sua cadeira de couro legítimo importada da Argentina. Cumprimentaram-se sem muito entusiasmo, mas com certa ternura. Ela mais nervosa que o habitual, ele, concentrado e quieto como de costume, tentou acalmá-la:

 

– Então hoje é o grande dia, hein? Como está se sentindo?

– Um pouco apreensiva... Nunca passei por isso.

– Fique tranqüila, dará tudo certo.

 

Dito isso convidou-a para deitar-se mais confortavelmente e foi preparar o que tinha que ser feito. Quando voltou, ela estava olhando para o teto numa expressão que denotava insegurança. Tentou relaxá-la, mas num impulso já se colocou por cima fazendo com que ela tencionasse seu corpo e cerrasse seus punhos. Seu instrumento no lugar certo a fez abrir a boca mais que o necessário. Seus olhos buscavam o teto, porém a cabeça daquele homem cobria todo seu campo de visão. Não sentia dor, mas o barulho que ele produzia a incomodava por demais, fazendo com que seu subconsciente, moldado pela sociedade, criasse um mal estar traumatizante.

 

No fim de trinta minutos ele estava suado e ela trêmula, e ambos estavam aliviados.

 

– Protinho!

– Ainda bem que não doeu muito...

– A anestesia funcionou bem, e ele estava em uma posição boa. Agora é só seguir essas recomendações e voltar na semana que vem para tirarmos os pontos.

– Doutor, poderia ver?

– Claro, era um dente de siso bem saliente.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Irracionalidade

Um colega um dia falou que não tem preconceito contra gay pois tem muitos amigos homossexuais, mas deixou claro que eles não "tentam" nada com ele pois sabiam que se tentarem "levariam um soco na cara". (Imaginei qual seria sua reação se uma amiga "tentasse" algo). Uma outra colega declarava em alto e bom som que era "muito mulher, que gostava era de homem e que lésbica tinha que apanhar". Isso tudo inflamado por eu declarar que era simpatizante e entusiasta do movimento gay. As piadinhas e comentários dúbios correram soltos. Fiquei triste e agoniado por está rodeado de pessoas que não respeitam o outro por ele não compartilhar de seus gostos e idéias.

 

Se há uma coisa que me deixa extremamente revoltado são as demonstrações de preconceito. O ser humano é facilmente suscetível à pré-conceitos (conceito que antecede o conhecimento), a forma como é criado e a cultura em que é envolvido explicam nossos julgamentos a priori. Todos temos nossos pré-conceitos, isso é normal. Contudo, o que me revolta são os preconceitos que extrapolam a individualidade de cada um, aquelas demonstrações que tratam o outro como uma aberração, sendo maior que a não-compreensão e atingindo a não-aceitação, a repulsa e a ofensa.

 

O fato de discriminar uma pessoa por ser diferente ou por ter uma outra concepção de vida é a expressão da irracionalidade humana. É necessário respeitar aquilo que não é espelho e compreender que uma humanidade diversa é o que nos faz evoluir.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sobre Livros

Ernest Hemingway viveu intensamente: caçou na África, pescou grandes peixes, teve muitas mulheres, bebeu o que tinha que beber (adorava um Mojito), lutou em guerras e escreveu, como escreveu! Comecei a ler Hemingway por O Velho e o Mar, seu livro mais famoso. Suas frases curtas dão ao seu protagonista, o pescador Santiago, uma veracidade intensa, é como se estivéssemos ouvindo-o falar. E como é gostoso ouvir os ensinamentos de obstinação, coragem, esperança e força.

 

Na maior parte do livro Santiago está só e conversa consigo mesmo, e seu monólogo nos envolve completamente. Ele tenta convencer-se de que é capaz de exercer seu ofício e capturar um enorme peixe. É comovente ver a luta deste pescador, mas antes de tudo a história expressa a força, o orgulho e a obstinação que um homem, já velho, carrega em seu ser. Adorei o livro, recomendo.

 

Abraços

sábado, 26 de janeiro de 2008

Sobre Livros

Esta semana li Vida Secas de Graciliano Ramos e confesso que esperava mais. O livro é bom, bem escrito, tem um estilo que gosto, mas acho que o fato de ter elegido este e Grande Sertão: Veredas como dois dos principais livros que precisava ler e por eu ter sido completa e irremediavelmente arrebatado por Grande Sertão, criou-se em mim uma expectativa enorme pelo livro de Ramos. E quando a expectativa é demasiada grande, por mais que a coisa esperada seja muito boa (caso de Vidas Secas) o resultado corre o risco de gerar frustração.

Mas a história de uma família de migrantes nordestinos que fogem da seca, lembrou-me a saga de minha vó Mundeza, também nordestina e também retirante. Ela, seu pai, sua mãe e dez irmãos saíram do Maranhão à pé e, após andarem por mais de dois meses e meio, se instalaram em Goiás (tenho um pequeno relato desta “viagem” gravada em vídeo, mais geral, tipo uma apresentação). Vejo, então, que me identifiquei de alguma maneira com o livro, só a expectativa exagerada que atrapalhou um pouco.

Abraços

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Orgulho em vender flores

Num bar de Goiânia:

"Oi senhor, compra uma flor?"

"Não, obrigado."

"Compra senhor, é baratinho, dois reais."

"Não vou querer, hoje não."

"Compra pra essa moça bonita, ela vai gostar."

"Ô menina enjoada, toma um real e sai daqui."

"Olha senhor, eu vendo flores, não tô pedindo dinheiro, obrigada."

Meu amigo, envergonhado e totalmente deslocado, pega seu um real, pede a conta e vai para casa.

O que fazer com as crianças que nos abordam para comprarmos algo? Façamos qualquer coisa, menos humilhá-las.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Devaneiando

Adoro olhar para o céu azul com algumas nuvens finas e esparsas. Essas nuvens são chamadas pelos geógrafos de Cirrus Stratos e comumente apelidadas de Rabo de Galo. Não é o nome que dá beleza à nuvem, mas é legal saber nomeá-las. Qual nome teria o conjunto das nuvens de Rabo de Galo com o fundo azul do céu? E quando este conjunto viesse acompanhado de um por do Sol outonal, como designá-lo? Ora, o melhor é admirá-lo!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sobre séries

Acabei de assistir a primeira temporada de Demages, uma série sobre o universo da advocacia e também sobre relações entre pessoas constantemente no limite. A série tem início mostrando uma mulher com sua roupa ensangüentada correndo pelas ruas de Nova York. Ela acaba sendo presa e somos transportados para seis meses atrás, onde os acontecimentos se desenrolam para explicar como chegamos a este ponto.

 

Ótimo programa com enredo instigante e atuações muito boas. A maneira da narrativa me agrada bastante, sem fornecer muitas explicações a história se forma a cada episódio. E as reviravoltas são constantes, com surpresas bem amarradas. Numa narrativa linear talvez não teríamos a mesma sensação que os vai-e-vem no tempo causam. Mais uma prova que o modo de contar é tão ou mais importante que a história.

 

Abraços



sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sobre livros

Acabei de ler Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago. Muito bom. A história é bem interessante e contada com extremo domínio. A forma dos diálogos me chamou a atenção por não usar os manjados travessões, há simplesmente a utilização, no meio do relato do narrador, da letra maiúscula no início da frase e com isso se sabe que alguém fala. Simples e eficiente, como todo o livro. A história por si fascina bastante (a humanidade, representada por uma cidade, começa a cegar, ou seria se “ver” cega? As metáforas que o autor emprega fazem-nos pensar sobre a condição humana, principalmente na atualidade) e a maneira que o escritor conta os acontecimentos me prendeu completamente.

Isso me fez lembrar do livro Cem anos de solidão de Gabriel García Márquez, em que uma história bem contada e muito bem escrita vale muito para despertar, constantemente, o interesse pela leitura no decorrer das páginas. Recomendo os dois livros e sabendo que o Ensaio estará no cinema em breve (já está em fase final) pelas mãos do Fernando Meireles vale a pena ler o livro antes. Do García Márquez, está nas telas O Amor em tempo do cólera, ainda não li, mas lerei (e só depois assistirei).

Abraços

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Uma cidade flamenguista

Minha estadia em Paraíso fez eu perceber o quanto é fácil seguir o gosto da maioria. Praticamente em todas as ruas há o símbolo do Flamengo. Seja no portão, na lixeira, no muro as cores o brasão rubro-negro mostra a paixão da cidade pelo clube carioca. Cresci neste meio, aprendi a gostar de futebol gostando do Flamengo, meus amigos de infância eram flamenguistas, meu tio favorito era flamenguista, os vizinhos eram flamenguistas. Foi fácil.

 

Claro que o fato de ter crescido na década de 1980, período em que o Mengão foi soberano e em que o Zico se tornou o ídolo do Brasil, favoreceu e fortaleceu minha paixão. Em cidades pequenas de estados com pouca expressividade futebolística (e também econômica), torcer para times de outros estados (especialmente Rio de Janeiro e São Paulo) é uma regra. E no caso do Flamengo essa máxima é totalmente verdadeira, o time deixou de ser apenas um clube carioca e se tornou nacional.

 

Este ano sua força pode ser retomada depois da saga de 2007 em que o time saiu da zona de rebaixamento e alcançou a Libertadores da América. Tomara que os dirigentes do clube não acabem com o brilho que surgiu pelas arquibancadas sempre lotadas e fervorosas, que irradiava garra e empurrava o time.
 
Abraços

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Viagem para Paraíso

O ônibus entra pelo caminho habitual, rua transversa à Prefeitura, mas onde estão as casas de minha memória? Que fachadas são essas de lojas que não conheço? E esse ginásio cobrindo a quadra de esporte cimentada do meu antigo Colégio! Quem o colocou lá? O movimento das ruas me surpreende; os semáforos me assustam; as pessoas, muitas agora, estão mais indiferentes...

 

Paraíso mudou e não acompanhei sua mudança. Porém, depois do sentimento de deslocamento, encontro alguns resquícios das imagens de minha infância e adolescência. Eles estão nas áreas mais afastadas, nas ruas estreitas, nas pessoas antigas e no calor dos amigos. As casas de duas águas com suas grades ou muros baixos são cada vez mais raros, mas estão lá; as ruinhas onde se brinca de Golzinho, Peteca. Bete, Infinca, Salva-companheiro, Queimada mantêm seu potencial (as brincadeiras não vi, mas percebi a possibilidade).

 

Uma visão me trouxe mais aconchego que todas: Seu Mundico sentado em seu tamborete na porta de sua vendinha, a Casa Abreu. Seu Mundico era o homem mais velho que eu conhecia, não sabia a idade dele, como ainda não sei, mas seus cabelos eternamente brancos para mim me davam a impressão que se tratava de um homem que sempre foi velho. Infelizmente não tive a perspicácia de ir até sua venda e comprar os suspiros que adoçavam minha boca de menino e me faziam voltar correndo com sorriso aberto, feliz e inocente.

 

Não presenciar as mudanças e as permanências de minha cidade natal provoca uma tristeza a cada vez que volto. Paradoxalmente, essa tristeza só é aplacada quando regresso e encontro as coisas que mudaram e as que permanecem. Nesta viagem, talvez mais que nas outras, as mudanças nas fachadas e nas ruas não me impactaram tanto quanto o carinho e dedicação dos amigos e parentes, a imagem do Seu Mundico e os olhos de amor de minha vó.