quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Oge e Bae

Oge era um rapaz solitário, apesar das relações que mantinha com diversas pessoas. Sentia solidão por não se enquadrar numa vida pré-determinada, carregada de conceitos a serem seguidos pelos ditames da normalidade. Isolara-se também por uma experiência de abandono. Já na infância conheceu uma garota chamada Bae. Os dois seguiram juntos por toda a vida, com alguns percalços às vezes turbulentos, às vezes suaves. No fundo e nos fins esse envolvimento não era proveitoso para Oge, mas era o que ele tinha.

O garoto se apegou totalmente a força daquela menina. A utilizava para se esconder das rejeições sofridas. E Bae o abraçou com toda energia, num desejo quase parasitário. Se nutrindo de Oge em todos os aspectos, reforçava seu desconforto, regava-o nas humilhações.

Nesse relacionamento, paradoxalmente, Oge se fortalecia assumindo sua fraqueza. Ao ponto de tirar proveito da condição de coitadinho em que Bae o impunha. Por fim, o relacionamento já não satisfazia Oge e ele quis fugir. Bae resistia, não o abandonaria por qualquer pretexto de vida digna que Oge agora vislumbrava. Suas vidas estavam entrelaçadas há muito, e os ganhos de Bae eram enormes e sabia que de certa forma contribuíra no desenvolvimento de Oge e acreditava ainda poder colaborar, mesmo com seu jeito torto, para o avançar do rapaz.

Nosso menino já rejeitava Bae com um ódio descomunal, às vezes deturpando seu caráter para afastar os rótulos impostos pela companheira. Mas a rejeição em alguns momentos se enfraquecia e Bae sabia esperar para dar o bote de forma sorrateira e novamente ganhava Oge.

Refém de uma condição submissa, Oge hoje tenta criar a base sólida para escapar de vez da relação desventurada com Bae. Mas sua experiência o calejou para tomar cuidado em não cair no reverso de se tornar ainda mais solitário, acabando com qualquer tipo de ligação com outras pessoas. Oge inclusive desconfia que essa possibilidade seja o grande plano de Bae.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dez anos completos e incessantes

No dia 18 de agosto de 2001 estava extremamente apreensivo, nervoso e empolgado. Queria tudo ali perfeito, a melhor comida, cerveja à vontade e bem gelada, a decoração impecável, as músicas legais e todos se sentindo confortáveis e bem acolhidos. Mas por mais que controlasse esses pormenores, pensando nos mínimos detalhes, não teria certeza do sucesso em cada um dos quesitos. Tanto que a mesa do bolo foi improvisada no momento da chegada dos convidados e do noivo.

Naquele dia percebi que não sabia o que era uma vida de casado, as coisas que deixaria para trás e as que ganharia, cumplicidade a ser construída, desavenças a serem resolvidas, não era claro o que faria da vida, como moraria, o que compraria, o momento de ceder e o de bater o pé, a angústia de ter que mudar os planos e a felicidade pela mudança dos planos. Só imaginava as possíveis conversas, esquecia a falta de assunto, vislumbrava nós dois debaixo da mesma coberta e nem cogitava cada um com seu lençol. Era um poço de imaginação, mas nenhuma certeza na vida depois dali. Aliás, certeza apenas uma, que continua e segue inexorável, a noiva era a mulher com a qual viveria para sempre, aquela que sempre busquei e esperei, a pessoa que na companhia conseguia ser eu mesmo, apesar de tentar mudar para ela.

Foram com nossos dez anos de casados que compreendi que as incertezas fazem parte do início da jornada. Contudo, a confiança de sabermos que estamos com a pessoa certa é fundamental, pois ela nos possibilitará a superação dos percalços que aparecem no decorrer dos anos. E a forma como superamos os momentos difíceis faz aumentar ainda mais a certeza de que trilhamos o caminho correto, porque assim solidificamos nosso sentimento para além da simples idealização e alcançamos a concretude do amor verdadeiro, perene, incandescente, confidente, base da solidez do nosso amor.

Foi por essa certeza que tudo mudou. Foi por esse sentimento que arrisquei os passos não planejados, porém esperados. Foi por ela que a vida ganhou direção, sem necessariamente ter precisão, e por ela pude vislumbrar sonhos concretos e abrir uma infinitude de possibilidades no horizonte da minha existência. Por causa dela, da certeza da mulher certa, que abandonei tudo e todos para ganhar a felicidade de vivermos juntos realizando uma história que, embora com seus desencontros, se mostra cada dia mais voluptuosa e gostosa de viver e construir.

Eu te amo não só pelos anos já vividos, mas também pelos que viveremos.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sentido

Tortura-me quando foges do meu olhar

Fere-me quando desvias teu corpo do meu toque

Entristece-me quando não respondes às minhas declarações de amor

Então...

Por que te procuro?

Por que te acaricio?

Por que te amo?

 

Porque te amo.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sem tabula rasa

Será que podemos realmente começar nossa vida a partir do zero? O renascimento pode ser concretizado deixando o passado para trás? Todos já atravessamos problemas e dificuldades que nos impõem o pensamento de fazermos tudo diferente. Depois deles, iremos mudar, seremos outra pessoa. Mas aquilo pelo qual passamos fica no esquecimento, não levamos nessa nova vida? Ora, o que nos moveu para essa guinada continua conosco, faz parte do nosso ser para sempre. Podemos até lutar cotidianamente contra ele, mas o carregaremos, afinal foi o que nos direcionou para esse caminho.

Dito isso, o fato de ter mentido, sacaneado, humilhado, sido covarde, ladrão e quase causar uma morte estará comigo mesmo com toda a vontade de esquecer, de buscar não repetir os erros, de querer mudar e melhorar como ser humano. Meu passado será um peso amarrado a mim, e algumas vezes me curvará, em outras o sustentarei tranquilamente.
Minhas falhas me moldaram, restringiram meus voos, mas agora, consciente disto, poderei me libertar continuando amarrado ao que fiz.
 
Abraços

quinta-feira, 10 de março de 2011

O dia do teu nascimento

Você nasceu no dia 3 de março de 2011, numa quinta-feira nublada e belíssima. O primeiro sinal veio de madrugada, dez minutos antes das 5 da manhã, mas só viestes ao mundo às 18 horas e 40 minutos da noite. Nesse tempo todo, fomos à clínica para o primeiro atendimento com o obstetra Dr. Luis Carlos, depois almoçamos no Goiânia Shopping, mesmo com a bolsa estourada, onde eu tomei um chope para diminuir um pouco minha ansiedade.

 

Tua mãe estava radiante, super feliz, louca para te pegar no colo. No começo as dores sentidas por ela estavam até tranquilas, porém houve um momento em que tivemos certas dificuldades, mas logo a situação foi controlada e você já estava chorando no peito dela e eu imensamente alegre te olhando, te admirando.

 

Você chegou com 3 quilos e 230 gramas, medindo 48 cm (mas acho que a técnica que fez a medição errou, parecia mais). Era muito saudável, cabeludo, roxinho e lindo. Tudo parecia extremamente normal, como algo já vivenciado, mas nem por isso deixou de ser mágico, pois era um sonho muito esperado se tornando real de forma completa e perfeita. E eu estava ali, uma das seis pessoas que primeiro ouviram seu choro, viram seus olhos, presenciaram o necessário trauma do nascimento. Fui eu quem cortou seu cordão umbilical, meio sem jeito, com medo de estar doendo...Uma experiência formidável!

 

Quando te peguei no colo minhas inseguranças, medos, angústias se dissiparam. Sabia que faria o melhor, que seríamos amigos, que daria conta da responsabilidade, que estaria disposto a tudo para te ajudar em sua caminhada. Hoje luto para achar graça nas tarefas nas quais você não participa, elas parecem banais demais, sem sentido. Queria tua presença em cada momento, ver teus olhos me procurando, acompanhado minha voz, sentir teu cheiro, até ouvir teu choro manhoso e desesperante me acalentaria. É preciso seguir, voltar à rotina, mas nada será o mesmo: tenho você e tua mãe, agora minha vida ganhou um novo sentido, agora sou ainda mais feliz e naquele dia descobri o quanto te amo Joaquim, meu filho.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A tampinha e um buraco no céu

Hoje consegui tirar a tampinha do iogurte sem que ela se partisse, fiz uma expressão de extrema felicidade ao ponto de minha colega de trabalho achar que estava exagerando. Já havia obtido tal feito em outras vezes, porém há um bom tempo a tampinha teimava em sair aos pedaços, por isso exacerbei meu contentamento como se tivesse ganhado algo muito valioso.

 

Isso me fez pensar na importância de valorizarmos esses pequenos acontecimentos que nos dão alegria e nos fazem sorrir contentes e exagerados. Não é só de grandiosidades que uma vida feliz é feita. Aliás, conseguir perceber os contentamentos que as miudezas nos proporcionam é um passo importante para uma existência cheia de felicidades, porque são elas que preenchem nosso caminho aqui.

 

Então se, num dia nublado e cinza, se abrir uma fresta de azul do céu, sorria e contemple a fortuna de presenciar algo belo em seu caminhar. Parece meio autoajuda, mas depois de muitas tampinhas rasgadas, percebi o quanto é gostoso lamber uma inteira.

 

Abraços.

 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Borrasca

Quem é você que me provoca tormentas?

Que torna meu coração vulcão?

Quanto vai-e-vem num plano deformado pelo humor

 

Por que sofro e sorrio

Se quero um céu de brigadeiro?

Navegar divagando com a força do vento

Aportar na areia descansando a mente

 

Encontrar-me é decifrar-te

É aceitar que após a erupção vem a quietude

Que a extinção também dilacera

Melhor é aprender nas tempestades

Entrar, se molhar, secar e seguir... te amando.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Joaquim

Depois de um bom tempo retomo esse espaço. E a volta não poderia ter um motivo mais importante: informar que logo, logo nascerá meu primeiro filho!

Muito esperado, o Joaquim veio após algumas complicações no processo da gravidez. A Flávia e eu decidimos entrar de cabeça no projeto de sermos pais há quatro anos, já ambos com 30. No início a ideia me assustava, tinha medo da responsabilidade, de não conseguir passar valores que considero importantes, de o bebê mudar demais nossa vida, tirando privacidades, exigindo cuidados extremos, enfim, a mudança que um filho traz me amedrontava completamente.

Tivemos dificuldades nas tentativas... Passou-se um ano e nada, dois anos e nada. Em mim, a angústia começava a se tornar maior que o medo. Contudo, esse tempo possibilitou, com ajuda de terapia, que o desejo de ser pai aflorasse de forma inexorável dentro de mim e todos os medos desaparecessem. Aí, amigos, a angústia cresceu enormemente pelo receio de não conseguirmos. Ser pai havia se tornado algo definitivo, se tornara um desejo total, um sonho.

Procuramos um especialista de nome engraçado, Dr. Rodopiano, fizemos tratamentos, a Flávia passou por uma cirurgia e, por fim, fizemos uma inseminação que deu certo na primeira. Não era o Joaquim. Depois de três meses de gravidez perdemos o bebê. Ainda com toda a dor na alma, tentamos novamente e dentre cinco óvulos maduros, o que poderia resultar em gravidez múltipla, só um foi fecundado. O menino queria exclusividade.

Hoje, faltando cerca de 10 semanas para o nascimento, o rapazinho já causa extrema felicidade com suas cambalhotas na barriga da mãe, com seus chutes fortes e seus soluços. O Joaquim já é muito amado e ansiosamente aguardamos para ver seus olhinhos castanhos, seu nariz largo, seus choros matinais (e noturnos!).

Venha meu filho, pois seu pai já está preparado para fazer o melhor que ele puder no empenho de fazê-lo feliz.

Aqui vocês veem, na primeira foto, o Joaquim chupando o dedo (ou será uma forçação?); na seguinte uma foto 3D; na terceira o pequeno sorrindo (ou é o pai que enxerga demais?).