quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Irracionalidade

Um colega um dia falou que não tem preconceito contra gay pois tem muitos amigos homossexuais, mas deixou claro que eles não "tentam" nada com ele pois sabiam que se tentarem "levariam um soco na cara". (Imaginei qual seria sua reação se uma amiga "tentasse" algo). Uma outra colega declarava em alto e bom som que era "muito mulher, que gostava era de homem e que lésbica tinha que apanhar". Isso tudo inflamado por eu declarar que era simpatizante e entusiasta do movimento gay. As piadinhas e comentários dúbios correram soltos. Fiquei triste e agoniado por está rodeado de pessoas que não respeitam o outro por ele não compartilhar de seus gostos e idéias.

 

Se há uma coisa que me deixa extremamente revoltado são as demonstrações de preconceito. O ser humano é facilmente suscetível à pré-conceitos (conceito que antecede o conhecimento), a forma como é criado e a cultura em que é envolvido explicam nossos julgamentos a priori. Todos temos nossos pré-conceitos, isso é normal. Contudo, o que me revolta são os preconceitos que extrapolam a individualidade de cada um, aquelas demonstrações que tratam o outro como uma aberração, sendo maior que a não-compreensão e atingindo a não-aceitação, a repulsa e a ofensa.

 

O fato de discriminar uma pessoa por ser diferente ou por ter uma outra concepção de vida é a expressão da irracionalidade humana. É necessário respeitar aquilo que não é espelho e compreender que uma humanidade diversa é o que nos faz evoluir.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sobre Livros

Ernest Hemingway viveu intensamente: caçou na África, pescou grandes peixes, teve muitas mulheres, bebeu o que tinha que beber (adorava um Mojito), lutou em guerras e escreveu, como escreveu! Comecei a ler Hemingway por O Velho e o Mar, seu livro mais famoso. Suas frases curtas dão ao seu protagonista, o pescador Santiago, uma veracidade intensa, é como se estivéssemos ouvindo-o falar. E como é gostoso ouvir os ensinamentos de obstinação, coragem, esperança e força.

 

Na maior parte do livro Santiago está só e conversa consigo mesmo, e seu monólogo nos envolve completamente. Ele tenta convencer-se de que é capaz de exercer seu ofício e capturar um enorme peixe. É comovente ver a luta deste pescador, mas antes de tudo a história expressa a força, o orgulho e a obstinação que um homem, já velho, carrega em seu ser. Adorei o livro, recomendo.

 

Abraços

sábado, 26 de janeiro de 2008

Sobre Livros

Esta semana li Vida Secas de Graciliano Ramos e confesso que esperava mais. O livro é bom, bem escrito, tem um estilo que gosto, mas acho que o fato de ter elegido este e Grande Sertão: Veredas como dois dos principais livros que precisava ler e por eu ter sido completa e irremediavelmente arrebatado por Grande Sertão, criou-se em mim uma expectativa enorme pelo livro de Ramos. E quando a expectativa é demasiada grande, por mais que a coisa esperada seja muito boa (caso de Vidas Secas) o resultado corre o risco de gerar frustração.

Mas a história de uma família de migrantes nordestinos que fogem da seca, lembrou-me a saga de minha vó Mundeza, também nordestina e também retirante. Ela, seu pai, sua mãe e dez irmãos saíram do Maranhão à pé e, após andarem por mais de dois meses e meio, se instalaram em Goiás (tenho um pequeno relato desta “viagem” gravada em vídeo, mais geral, tipo uma apresentação). Vejo, então, que me identifiquei de alguma maneira com o livro, só a expectativa exagerada que atrapalhou um pouco.

Abraços

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Orgulho em vender flores

Num bar de Goiânia:

"Oi senhor, compra uma flor?"

"Não, obrigado."

"Compra senhor, é baratinho, dois reais."

"Não vou querer, hoje não."

"Compra pra essa moça bonita, ela vai gostar."

"Ô menina enjoada, toma um real e sai daqui."

"Olha senhor, eu vendo flores, não tô pedindo dinheiro, obrigada."

Meu amigo, envergonhado e totalmente deslocado, pega seu um real, pede a conta e vai para casa.

O que fazer com as crianças que nos abordam para comprarmos algo? Façamos qualquer coisa, menos humilhá-las.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Devaneiando

Adoro olhar para o céu azul com algumas nuvens finas e esparsas. Essas nuvens são chamadas pelos geógrafos de Cirrus Stratos e comumente apelidadas de Rabo de Galo. Não é o nome que dá beleza à nuvem, mas é legal saber nomeá-las. Qual nome teria o conjunto das nuvens de Rabo de Galo com o fundo azul do céu? E quando este conjunto viesse acompanhado de um por do Sol outonal, como designá-lo? Ora, o melhor é admirá-lo!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sobre séries

Acabei de assistir a primeira temporada de Demages, uma série sobre o universo da advocacia e também sobre relações entre pessoas constantemente no limite. A série tem início mostrando uma mulher com sua roupa ensangüentada correndo pelas ruas de Nova York. Ela acaba sendo presa e somos transportados para seis meses atrás, onde os acontecimentos se desenrolam para explicar como chegamos a este ponto.

 

Ótimo programa com enredo instigante e atuações muito boas. A maneira da narrativa me agrada bastante, sem fornecer muitas explicações a história se forma a cada episódio. E as reviravoltas são constantes, com surpresas bem amarradas. Numa narrativa linear talvez não teríamos a mesma sensação que os vai-e-vem no tempo causam. Mais uma prova que o modo de contar é tão ou mais importante que a história.

 

Abraços



sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sobre livros

Acabei de ler Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago. Muito bom. A história é bem interessante e contada com extremo domínio. A forma dos diálogos me chamou a atenção por não usar os manjados travessões, há simplesmente a utilização, no meio do relato do narrador, da letra maiúscula no início da frase e com isso se sabe que alguém fala. Simples e eficiente, como todo o livro. A história por si fascina bastante (a humanidade, representada por uma cidade, começa a cegar, ou seria se “ver” cega? As metáforas que o autor emprega fazem-nos pensar sobre a condição humana, principalmente na atualidade) e a maneira que o escritor conta os acontecimentos me prendeu completamente.

Isso me fez lembrar do livro Cem anos de solidão de Gabriel García Márquez, em que uma história bem contada e muito bem escrita vale muito para despertar, constantemente, o interesse pela leitura no decorrer das páginas. Recomendo os dois livros e sabendo que o Ensaio estará no cinema em breve (já está em fase final) pelas mãos do Fernando Meireles vale a pena ler o livro antes. Do García Márquez, está nas telas O Amor em tempo do cólera, ainda não li, mas lerei (e só depois assistirei).

Abraços

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Uma cidade flamenguista

Minha estadia em Paraíso fez eu perceber o quanto é fácil seguir o gosto da maioria. Praticamente em todas as ruas há o símbolo do Flamengo. Seja no portão, na lixeira, no muro as cores o brasão rubro-negro mostra a paixão da cidade pelo clube carioca. Cresci neste meio, aprendi a gostar de futebol gostando do Flamengo, meus amigos de infância eram flamenguistas, meu tio favorito era flamenguista, os vizinhos eram flamenguistas. Foi fácil.

 

Claro que o fato de ter crescido na década de 1980, período em que o Mengão foi soberano e em que o Zico se tornou o ídolo do Brasil, favoreceu e fortaleceu minha paixão. Em cidades pequenas de estados com pouca expressividade futebolística (e também econômica), torcer para times de outros estados (especialmente Rio de Janeiro e São Paulo) é uma regra. E no caso do Flamengo essa máxima é totalmente verdadeira, o time deixou de ser apenas um clube carioca e se tornou nacional.

 

Este ano sua força pode ser retomada depois da saga de 2007 em que o time saiu da zona de rebaixamento e alcançou a Libertadores da América. Tomara que os dirigentes do clube não acabem com o brilho que surgiu pelas arquibancadas sempre lotadas e fervorosas, que irradiava garra e empurrava o time.
 
Abraços

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Viagem para Paraíso

O ônibus entra pelo caminho habitual, rua transversa à Prefeitura, mas onde estão as casas de minha memória? Que fachadas são essas de lojas que não conheço? E esse ginásio cobrindo a quadra de esporte cimentada do meu antigo Colégio! Quem o colocou lá? O movimento das ruas me surpreende; os semáforos me assustam; as pessoas, muitas agora, estão mais indiferentes...

 

Paraíso mudou e não acompanhei sua mudança. Porém, depois do sentimento de deslocamento, encontro alguns resquícios das imagens de minha infância e adolescência. Eles estão nas áreas mais afastadas, nas ruas estreitas, nas pessoas antigas e no calor dos amigos. As casas de duas águas com suas grades ou muros baixos são cada vez mais raros, mas estão lá; as ruinhas onde se brinca de Golzinho, Peteca. Bete, Infinca, Salva-companheiro, Queimada mantêm seu potencial (as brincadeiras não vi, mas percebi a possibilidade).

 

Uma visão me trouxe mais aconchego que todas: Seu Mundico sentado em seu tamborete na porta de sua vendinha, a Casa Abreu. Seu Mundico era o homem mais velho que eu conhecia, não sabia a idade dele, como ainda não sei, mas seus cabelos eternamente brancos para mim me davam a impressão que se tratava de um homem que sempre foi velho. Infelizmente não tive a perspicácia de ir até sua venda e comprar os suspiros que adoçavam minha boca de menino e me faziam voltar correndo com sorriso aberto, feliz e inocente.

 

Não presenciar as mudanças e as permanências de minha cidade natal provoca uma tristeza a cada vez que volto. Paradoxalmente, essa tristeza só é aplacada quando regresso e encontro as coisas que mudaram e as que permanecem. Nesta viagem, talvez mais que nas outras, as mudanças nas fachadas e nas ruas não me impactaram tanto quanto o carinho e dedicação dos amigos e parentes, a imagem do Seu Mundico e os olhos de amor de minha vó.