quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A Primeira Vez

Estava caindo uma chuva forte na cidade quando ela entrou no cômodo. O ambiente era apertado e bastante iluminado. Ele a esperava elegantemente sentando em sua cadeira de couro legítimo importada da Argentina. Cumprimentaram-se sem muito entusiasmo, mas com certa ternura. Ela mais nervosa que o habitual, ele, concentrado e quieto como de costume, tentou acalmá-la:

 

– Então hoje é o grande dia, hein? Como está se sentindo?

– Um pouco apreensiva... Nunca passei por isso.

– Fique tranqüila, dará tudo certo.

 

Dito isso convidou-a para deitar-se mais confortavelmente e foi preparar o que tinha que ser feito. Quando voltou, ela estava olhando para o teto numa expressão que denotava insegurança. Tentou relaxá-la, mas num impulso já se colocou por cima fazendo com que ela tencionasse seu corpo e cerrasse seus punhos. Seu instrumento no lugar certo a fez abrir a boca mais que o necessário. Seus olhos buscavam o teto, porém a cabeça daquele homem cobria todo seu campo de visão. Não sentia dor, mas o barulho que ele produzia a incomodava por demais, fazendo com que seu subconsciente, moldado pela sociedade, criasse um mal estar traumatizante.

 

No fim de trinta minutos ele estava suado e ela trêmula, e ambos estavam aliviados.

 

– Protinho!

– Ainda bem que não doeu muito...

– A anestesia funcionou bem, e ele estava em uma posição boa. Agora é só seguir essas recomendações e voltar na semana que vem para tirarmos os pontos.

– Doutor, poderia ver?

– Claro, era um dente de siso bem saliente.

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