quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A copa da esperança

              Não havia disputa, o Brasil era candidato único para sediar a copa do mundo de futebol de 2014. Todos sabíamos que seria aceito como sede. Esse fato gerou dois sentimentos: tranquilidade e desconfiança. O primeiro foi gerado pela certeza da escolha, que, por sua vez, possibilitou a uma parte da população, principalmente a imprensa especializada, visualizar os perigos da realização desse grande evento.
           A certeza nos tirou aquela angústia da disputa, que vem do desejo de ganharmos de outro. Não pudemos exaltar a esperança, a dúvida não existia, já pensávamos em 2014 em plena Copa de 2006. Víamos a Alemanha e seus belos estádios, seu trânsito organizado, seus metrôs ágeis e elegantes, a satisfação dos torcedores pelo conforto das arquibancadas e já pensávamos: "não vamos conseguir!"

            A copa no Brasil poderá ter inúmeros benefícios: reforma e criação de campos de futebol, onde o torcedor seja tratado dignamente; melhoria no transporte público e no trânsito, na saúde e na infraestrutura turística; mas, o que representará, podendo ser o maior dos ganhos, uma guinada na vida dos brasileiros é a elevação de sua autoestima e confiança, é acreditar que podemos realizar grandes empreendimentos.

            Imagine os estádios lotados de pessoas felizes porque foram bem recebidas, chegaram tranquilamente ali, se sentaram numa poltrona confortável, numa arena funcional e ao mesmo tempo artisticamente bela, felizes por saber que estarão seguras e terão, se precisarem, atendimento de saúde ágil e eficiente e, principalmente, por saber que tudo isso foi feito por ele, enquanto pertencente à sociedade brasileira.

            Pois é à sociedade brasileira que cabe cobrar as melhoreis, as novas construções, o atendimento digno. Somos nós que temos o dever de fiscalizar essas obras, exigindo lisura, cobrando punição àqueles que aproveitam de uma momento ímpar, um momento coletivo, para obterem ganhos individuais e impróprios.
            Por isso, mesmo não havendo disputa, mesmo que não pudemos exaltar nossa vitória sobre um adversário, o Brasil venceu. Ganhou a possibilidade de mostrar para si mesmo que é capaz de superar seus erros e fazer de um evento esportivo o ponta pé inicial para as verdadeiras e necessárias mudanças. A copa trará sim grandes benefícios materiais que ficarão às vistas. Porém, o que permanecerá, se todos fizermos nossa parte, será a esperança de que tudo poderá ser diferente depois dela.
 
Abraços

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