Antes dos irmãos Lumière os encontros entre as pessoas se limitavam aos passeios na praça principal. Quando da volta para casa, se a audácia permitisse, iam de mãos dadas. Todos eram observados e todos se vigiavam. As pessoas se interagiam quase numa comunhão total entre vizinhos de uma determinada localidade. Não havia o escondido por não haver onde se esconder. Os olhos vigilantes seguiam os passos, as mãos, as bocas... Tudo deveria estar no lugar. Cerceavam até o livre pensamento, castrando inclusive a imaginação.
O cinema mudou a dinâmica dessas relações. Agora os casais, por exemplo, iam ver um filme e estavam livres da vigilância recriminadora dos vizinhos. Sentiam-se a vontade para receber e dar carícias. O escuro da sala de projeção desencadeava uma desinibição outrora inexistente. Ir ao cinema se tornou sinônimo de namorar, de congregar com os amigos, e assim, as poltronas ocuparam o lugar dos bancos das praças. Assistir a filmes, e mais, esses próprios, revolucionou o modo de agir da sociedade.
Nas salas de cinema a interação entre as pessoas é mediada pelas regras da boa convivência, é prudente não atrapalhar os demais. Isso, contudo, não impede que os filmes influenciem os que lho assistem. Costumes, roupas, jeitos de falar, concepção de mundo, tenta-se imitar o que é visto na obra fictícia. A comunhão, por vezes hipnótica, extrapola o ambiente das salas, o planeta passa a ser o limite da agregação. Os lançamentos são eventos globais e todos conhecem os heróis dos filmes, todos se vestem, falam, se comportam como os personagens, numa homogeneização planetária..
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